Um dia desses vi um vídeo do ator britânico Andrew Garfield respondendo uma pergunta. Sobre como ele se sente quando lhe dizem que ele não é a melhor versão do Homem-Aranha no cinema, e ele diz:
"Eu tenho 40 anos de idade e eu me conheço agora. Se você for me amar, me ame. E se não, a perda é sua."
Eu chego aos 30 anos em poucos meses. Eu nunca pensei que viveria tanto assim e, hoje em dia, eu sinto que é só o começo pra mim. A fala do Andrew Garfield reflete muito em homens como eu, que viveram (e vivem) a vida toda com problemas de autoestima. Eu ainda não cheguei num ponto de plenitude comigo mesmo, mas eu sinto que tô no caminho certo.
A minha vida toda eu sinto que medi o meu valor, como pessoa, através de outros. Seja a validação dos meus pais, amigos, amigas e parceiras. "Se alguém me ama, eu devo ter algum valor, se alguém não me ama, eu deixo de ter algum valor."
Isso sem contar os momentos em que eu fui amado e, ainda assim, questionava a genuinidade desse amor. Claro que não diretamente pra pessoa, eu não costumava externar minhas inseguranças. Isso era tudo na minha cabeça. Corroendo cada canto que percorria na minha mente.
Quando eu digo que passei os últimos dois anos solteiro, não é apenas "solteiro". É sozinho. Estando deprimido a maior parte do tempo e sem força emocional pra sequer cogitar conhecer uma nova pessoa e colocar ela em minha vida.
Esses últimos anos que passei comigo mesmo foram prazerosos e tortuosos em igual proporção. A dor profunda do "eu" em relação ao conflito com o mundo exterior é algo difícil de lidar às vezes. Isso sem contar que tendo Transtorno Afetivo Bipolar Tipo II, eu ainda luto contra meu próprio cérebro e os pensamentos intrusivos que estão frequentemente contra mim. Distorcendo a realidade ao meu redor e repetindo o tempo todo todas as minhas inseguranças e distorcendo a realidade ao meu redor.
Em muitos momentos da minha vida eu questionei a realidade, até hoje questiono, mas não de forma objetiva e literal como antes. Acho que foi a assim que eu cheguei ao ponto de subjetivamente me questionar qual seria o significado de humanidade e, muito influenciado por Ernest Becker, chegar à linha de pensamento que me movimenta, que me trouxe até aqui e, espero, que leve mais longe.
Um dia de cada vez
Eu costumava pensar muito sobre o futuro quando era mais jovem. De fato, essa é toda a raiz da minha ansiedade e, provavelmente, de todos os meus transtornos psicológicos. Pensar sobre o futuro significava pensar sobre a morte. E é óbvio que o pior iria acontecer. Não tinha outra alternativa.
Teve. O pior nunca aconteceu. Todas as minhas preocupações foram perda de tempo, tornaram o mundo tão turvo que eu estava ficando cego.
Viver um dia de cada vez me fez focar no presente. Me fez tomar decisões baseadas em sobreviver em uma única unidade de tempo. Amanhã? A gente se preocupa com o amanhã quando ele chegar. Eu acredito que vai ficar tudo bem, porque eventualmente tudo fica. Falando sobre o âmbito pessoal, claro. Isso só demanda tempo. E tempo a gente tem.
Após minha vida ter se estabilizado minimamente, eu me vi tendo o luxo de pensar no futuro, de planejar o amanhã, já que não era mais uma questão tão imediata de sobrevivência. Eu vou sobreviver, eu provo isso a cada ano que, metaforicamente, sopro velinhas no dia 10 de março.
Eu aprendi que "cada segundo conta" não é uma expressão sobre ansiedade, que demanda pressa. É o contrário. É sobre valorizar e apreciar cada frame da vida.
Isso foi o que eu aprendi sozinho.
(“Sozinho”, junto com minha terapeuta, minha psiquiatra, meus amigos e amigas e uma interminável lista de filmes e séries que vi e refleti sobre, mas sozinho).
Ultimamente eu tenho pensado muito sobre “companhia”. Como eu queria viver um grande amor. Eu nem sei se estou preparado pra isso, ou se deveria estar preparado pra isso. Eu não sei com quem viveria esse grande amor ou se deveria saber. Há poucos meses eu caí novamente em um buraco de sentir a necessidade de provar o meu valor pra uma pessoa. Crises. Apesar de tudo, eu ainda faço isso com frequência.
Eu me conheço, eu sei o meu valor, eu só preciso me lembrar disso todos os dias. Coisa pouca.
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